As pessoas são engraçadas, de um jeito muito irônico. É
engraçado que parece que quanto mais a gente cresce, pior a gente fica. Mais
frio a gente se torna. A criança ou o adolescente que você era, teria orgulho
do adulto que você é hoje? Há quem diga que a vida nos torna assim, as
decepções, os medos, e que é justificável aquela pessoa ser assim porque
afinal, “olha tudo o que ela já passou, coitada, é uma forma de se proteger.”
Eu discordo. Eu defendo a tese de que a vida é difícil, a gente até nasce
chorando. Mas na vida a gente SEMPRE pode escolher, existem dois caminhos, você
sempre pode pegar o caminho mais fácil e “desligar” seus sentimentos como se
fosse um botãozinho, e se tornar alguém mais frio, alguém que ninguém nunca
mais vai te machucar. Porém, vai ter que conviver com a vida vazia que você vai
ter, o medo de deixar qualquer um se aproximar de você de novo, a desconfiança
de tudo e todos. E tem o caminho mais difícil, que eu escolhi trilhar, de lidar
com as situações, enfrentar, oras! Se permitir chorar, sofrer, mas se permitir
sentir tudo, tudo mesmo. Amor, felicidade, decepção, tristeza, desilusão,
paixão, tesão, ódio, raiva, gratidão. Deixe se afundar na dor, e mesmo que você
queira mais que tudo ligar aquele botãozinho e decidir se tornar alguém mais
frio, só pra se proteger, lembra que tudo passa, que quando você se permitir
afundar na dor, eventualmente, você começará a nadar, e sem perceber você vai ver
que superou! E esse não vai ser o momento mais feliz, vai ser olhar pra trás e
ver que você continua o mesmo, a mesma pessoa de sempre, que nada em você
mudou, nada foi alterado ou danificado. É o que me deixa mais feliz, olhar pra
trás e saber que eu sou a mesma Gabriela de 10, 15, anos atrás, ainda ingênua,
feliz, bondosa, grata, gentil, pentelha, carinhosa e cheia de amor pra dar e
vender! Só um pouco mais machucada, e pronta pra quando se curar, quebrar a
cara de novo, afinal a vida é pra quem tem coragem. Mas eu tenho orgulho de
dizer que eu não mudei, que a Gabriela criança teria orgulho sim da Gabriela
adulta que sou hoje. E eu vou continuar a mesma daqui a 50, 60, 70 anos.
Gabriela Bergamo.